Em nome da minha quase graduação em Publicidade e Propaganda, vou primeiro defender o pobre do marketing, esse sim, atacado gratuitamente pelo meu amigo (vamos chamá-lo de Carlos).
Marketing não tem nada a ver com agredir ou desrespeitar em nome de destaque e atenção, Carlos. Marketing, na verdade, é uma complexa ciência que demandaria cerca de 38.476 blogs para uma singela introdução ao assunto. Portanto, vamos nos restringir a comentar apenas sobre assuntos que dominamos ou que não esbarrem em nossas limitações intelectuais. Simplificando... Se for pra falar merda, fica quieto. Grato.
Agora, minha faceta mais feroz: o fã de Madonna. Acredito ser de conhecimento geral que não existe fã mais chato do que aquele que admira ícones. Atenção, fãs de Beatles, Elvis, Michael, Stones, Roberto Carlos e, obviamente, Madonna. É de vocês (nós) que estou falando.
Somos chatos bagarai. De acordo? Ótimo, vamos continuar com o texto.
Falemos agora mocinha de Detroit que a crítica especializada (?) jurava que não duraria mais que seis meses, afinal de contas ela mal sabia cantar, se vestia feito uma louca e provocava a ira dos puritanos americanos.
Tudo isso num pacote que traz a cantora, a dançarina, a atriz, a compositora, a produtora, a cineasta, a caça-talentos, a empresária, a mãe, a esposa...
Aí vem o Carlos e diz: “Tá, ela é tudo isso. Mas não precisava subir numa cruz e fingir que era Cristo!”.
Tudo é questão de ponto de vista, meu caro. Eu, como fã e admirador, não vi minha religião arranhada pela atitude da lôra. Pelo contrário, me vi como participante de um movimento que pode mudar o mundo, se eu quiser. A discrepância entre a minha visão e a de Carlos é gritante.
Vide o trecho: “If I run away, I’ll never have the strength to go very far. How could they hear the beating of my heart? Will it grow cold, the secret that I hide? Will I grow old? How could they hear? When will they learn? How will they know?” (Se eu fugir, nunca terei forças pra ir muito longe. Como é que eles escutarão a batida do meu coração? O segredo que eu guardo congelará? Eu envelhecerei? Como eles poderão ouvir? Como aprenderão? Como saberão?)
Não sou da crítica especializada (?) pra determinar a interpretação que todos devem ter, mas a minha visão me mostra alguém que fala pelos moribundos. A voz que eles não têm sendo espalhada mundo afora. Por ninguém menos que Madonna. Ao final da música, os números apontam 12.000, que é o número de crianças que ficam órfãs por ano, na África. Depois de mais algumas estatísticas (assustadoras, diga-se de passagem), a canção se encerra com uma passagem da Bíblia:
“ ‘For I was hungry, you gave me food. I was naked, you gave me clothing. I was sick, you took care of me.’ And God replied: ‘Whatever you did for one of the least of my brothers… You did it to me’. Matthew 25:35” (“ ‘Eu tive fome, e Você me alimentou. Eu estava nu, e Você me deu roupas. Eu estava enfermo, Você cuidou de mim’. E Deus respondeu: ‘O que quer que tenhas feito ao menor de meus irmãos... A mim o fizestes.’ ” Mateus 25:35)
E se encerra a apresentação. Não me senti ofendido. Mas tudo é uma questão de ponto de vista.
Carlos, um pouco irritado: “Mesmo assim. Não fica bem pra uma senhora de 50 e tantos anos ficar rebolando daquele jeito.”
Carlinhos, meu querido revoltado. Madonna não é o tipo de artista que se preocupa com o que “fica bem”. Portanto, espere o inesperado. Sempre. Pensando agora, acho que não é só o “marketing” que demandaria uns 38.476 blogs pra ser desvendado.
Resumindo, todos têm uma imagem instantânea de Madonna. Pelo impacto que sua imagem causou na História, talvez. Mas a minha grande indignação (que me leva a escrever tanto) é o fato de Madonna ser vítima exatamente do mal que a loira combate com maior fúria: o pré-conceito. O julgamento prematuro.
Alguém que não seja fã sabe me dizer a razão de simular masturbação no palco? Ou o motivo que leva uma cantora bem-sucedida a enfrentar o governo americano em plena guerra? Não. Pois a instantaniedade nos obriga a formar opiniões que nem sempre condizem com o que acontece de fato. E, muito infelizmente, esse é um fenômeno que afeta não apenas a rockstars, mas a todos os outros meros mortais rotulados pela preguiça de pensar de outrem.
Ao discutir música pop, ao colocar um amigo em determinada prateleira, ao pré-conceituar algo ou alguém, não tenha preguiça de pensar. Ou então reserve-se no direito de não comentar sobre o que não conhece. Não caia onde o Carlos caiu. Senão, durante algum debate, você corre o risco de argumentar próximo a alguém que te prove exatamente o contrário da sua opinião mal formulada. E a cara de tacho é gigantesca.