Eis que me encontro em meu quarto, olhando os livros que devem datar da era de Cristo, e com uma preocupação que me mói os miolos: um trabalho de biologia humanamente impossível, com o perdão do trocadilho. Qual o problema dos professores de biologia? Eles realmente acreditam que eu, com doze anos de idade, vou me interessar em saber quantos componentes tem uma célula? Pelo amor de Deus! Nunca vou usar o que eles me ensinam. Nunca. É algo que eles deveriam se preocupar, oras. Eles são os sabichões, não são? Pois que agüentem.
A faculdade deve ser uma tortura. Biologia todos os dias da semana durante quatro anos, Deus me livre.
Já são onze da manhã. Quase hora de ir pra escola.
Quer saber? Não vou entregar trabalho algum! É inútil escrever sobre células, gente. Se fosse sobre algo interessante de verdade como aquele episódio do Lost ou a nova ferramenta do Orkut, ainda vá lá. Mas uma meleca rosa? Aquela que é tão pequena que só lentes especiais a enxergam? Poupe-me. Estou pouco me lixando se o núcleo é sensível demais pra ser exposto e precisa da membrana. Dane-se a membrana! Ela nunca fará diferença alguma em minha vida. Ah! E, por favor, alguém dê uma luz ao pobre do citoplasma. Acorda, amigo. Quando alguém não me quer por perto, eu me toco e saio. Você ainda não percebeu que o núcleo (odeio esse metidinho a protegido) e a membrana nem sentem sua falta? Cai fora pra algum outro micro-sistema que te dê valor. Um vírus, talvez.
É isso que vou falar pra Dona Roseli, minha professora.
Meus pais mesmo não lembram nada dessa matéria. E olha que eles são gênios, hein! E eu sei que estou no mesmo caminho. Sou uma porta de burro em biologia.
