Dona Madonna. Um escândalo. (Só um?)

Um amigo me disse, essa semana: “Não sei como você consegue ser fã dessa mulher! Ela é um desrespeito só! Ataca todo mundo de graça, só pra aparecer. Puro marketing”.

Em nome da minha quase graduação em Publicidade e Propaganda, vou primeiro defender o pobre do marketing, esse sim, atacado gratuitamente pelo meu amigo (vamos chamá-lo de Carlos).

Marketing não tem nada a ver com agredir ou desrespeitar em nome de destaque e atenção, Carlos. Marketing, na verdade, é uma complexa ciência que demandaria cerca de 38.476 blogs para uma singela introdução ao assunto. Portanto, vamos nos restringir a comentar apenas sobre assuntos que dominamos ou que não esbarrem em nossas limitações intelectuais. Simplificando... Se for pra falar merda, fica quieto. Grato.









Agora, minha faceta mais feroz: o fã de Madonna. Acredito ser de conhecimento geral que não existe fã mais chato do que aquele que admira ícones. Atenção, fãs de Beatles, Elvis, Michael, Stones, Roberto Carlos e, obviamente, Madonna. É de vocês (nós) que estou falando.

Somos chatos bagarai. De acordo? Ótimo, vamos continuar com o texto.






Falemos agora mocinha de Detroit que a crítica especializada (?) jurava que não duraria mais que seis meses, afinal de contas ela mal sabia cantar, se vestia feito uma louca e provocava a ira dos puritanos americanos.








Pois bem, isso aconteceu nos anos iniciais da antológica década de 80. Desde então, ela já foi virgem, contestadora, dominatrix, roqueira, diva disco, musa country, eletronika, anti-Bush e mentora das novas carnes que estão chegando por aí.

Tudo isso num pacote que traz a cantora, a dançarina, a atriz, a compositora, a produtora, a cineasta, a caça-talentos, a empresária, a mãe, a esposa...

Aí vem o Carlos e diz: “Tá, ela é tudo isso. Mas não precisava subir numa cruz e fingir que era Cristo!”.

Tudo é questão de ponto de vista, meu caro. Eu, como fã e admirador, não vi minha religião arranhada pela atitude da lôra. Pelo contrário, me vi como participante de um movimento que pode mudar o mundo, se eu quiser. A discrepância entre a minha visão e a de Carlos é gritante.






Quando Madonna sobe numa cruz e orna uma coroa de espinhos, é claro que não vemos a simbologia por trás disso de imediato. Enxergamos apenas o instantâneo que agride a moral religiosa. Nosso cérebro parece dizer: “Quem ela pensa que é? Cristo é apenas um. Desce dessa cruz, sua louca!”. Ao prestar mais atenção, vemos que atrás da cruz há um telão em que correm números que contabilizam as mortes de africanos pela AIDS. A música que entoa a performance é “Live to Tell”, que foi composta numa época completamente avessa ao momento, mas que se encaixa perfeitamente.

Vide o trecho: “If I run away, I’ll never have the strength to go very far. How could they hear the beating of my heart? Will it grow cold, the secret that I hide? Will I grow old? How could they hear? When will they learn? How will they know?” (Se eu fugir, nunca terei forças pra ir muito longe. Como é que eles escutarão a batida do meu coração? O segredo que eu guardo congelará? Eu envelhecerei? Como eles poderão ouvir? Como aprenderão? Como saberão?)

Não sou da crítica especializada (?) pra determinar a interpretação que todos devem ter, mas a minha visão me mostra alguém que fala pelos moribundos. A voz que eles não têm sendo espalhada mundo afora. Por ninguém menos que Madonna. Ao final da música, os números apontam 12.000, que é o número de crianças que ficam órfãs por ano, na África. Depois de mais algumas estatísticas (assustadoras, diga-se de passagem), a canção se encerra com uma passagem da Bíblia:

‘For I was hungry, you gave me food. I was naked, you gave me clothing. I was sick, you took care of me.’ And God replied: ‘Whatever you did for one of the least of my brothers… You did it to me’. Matthew 25:35” (“ ‘Eu tive fome, e Você me alimentou. Eu estava nu, e Você me deu roupas. Eu estava enfermo, Você cuidou de mim’. E Deus respondeu: ‘O que quer que tenhas feito ao menor de meus irmãos... A mim o fizestes.’ ” Mateus 25:35)

E se encerra a apresentação. Não me senti ofendido. Mas tudo é uma questão de ponto de vista.






Carlos, um pouco irritado: “Mesmo assim. Não fica bem pra uma senhora de 50 e tantos anos ficar rebolando daquele jeito.”

Carlinhos, meu querido revoltado. Madonna não é o tipo de artista que se preocupa com o que “fica bem”. Portanto, espere o inesperado. Sempre. Pensando agora, acho que não é só o “marketing” que demandaria uns 38.476 blogs pra ser desvendado.



Resumindo, todos têm uma imagem instantânea de Madonna. Pelo impacto que sua imagem causou na História, talvez. Mas a minha grande indignação (que me leva a escrever tanto) é o fato de Madonna ser vítima exatamente do mal que a loira combate com maior fúria: o pré-conceito. O julgamento prematuro.
Alguém que não seja fã sabe me dizer a razão de simular masturbação no palco? Ou o motivo que leva uma cantora bem-sucedida a enfrentar o governo americano em plena guerra? Não. Pois a instantaniedade nos obriga a formar opiniões que nem sempre condizem com o que acontece de fato. E, muito infelizmente, esse é um fenômeno que afeta não apenas a rockstars, mas a todos os outros meros mortais rotulados pela preguiça de pensar de outrem.

Ao discutir música pop, ao colocar um amigo em determinada prateleira, ao pré-conceituar algo ou alguém, não tenha preguiça de pensar. Ou então reserve-se no direito de não comentar sobre o que não conhece. Não caia onde o Carlos caiu. Senão, durante algum debate, você corre o risco de argumentar próximo a alguém que te prove exatamente o contrário da sua opinião mal formulada. E a cara de tacho é gigantesca.

17 comentários:

Olá, Basso!

Ótimo blog e ótima réplica para o Carlos e todos aqueles que, de maneira ignorante, criticam a Madonna.

Em meio a toda essa explosão de hormônios por causa da Sticky and Sweet, o "debate" foi parecido com um amigo meu:

Alguém: Nobre Epígono, REM é REM. Madonna é POP.

Nobre Epígono: Madonna é Madonna, REM é REM e os dois juntos ou separados são ARTE.

Alguém: Cara, eu não pagaria o que tu pagou pra assistir um show da Madonna! shuiahsiahsiahsiahs

Nobre: E eu nem pagaria para o REM. O meu prazer pesa mais para a Madonna (nos seus dizeres: aquela puta idosa).

Alguém: Ok, ok...

Nobre: Gosto é gosto, né?

FIM.

O jeito é relevarmos essas "coisinhas", Basso!

PS: muito bom mesmo o blog.

 
Este comentário foi removido pelo autor.
 

ótimo texto, eu concordo com a sua visão da Madonna e especialmente da apresentação de "live to tell" na cruz. Acho essa performance absolutamente emocionante.
Só não concordo muito com a última parte do post. A gente não deve deixar de discutir aquilo que não entende bem, só devemos discutir com a mente aberta pra mudar nossos conceitos se alguém que entenda mais do assunto nos apresenta opiniões que parecem fazer mais sentido. Não preciso ser especialista pra reagir e ter opinião sobre as coisas, mas é claro que aprender é sempre importante! Na minha opinião, é claro.
Beijão!

 

Eu não sei como não conseguem gostar da Madonna hahahaha (L)

ressalva: arrasou no blog! Gostay deveras :)

 

Ahn muito bom o texto sobre a madge.
além da critica serviu como uma volta ao tempo relembrando a carreira dela.
Gostei do Blog *-*

 

Tinha q ser o Thiago para escrever assim! Excelente!

Polemica é so uma maneira de mostrar suas opinões. Eu nao sou fã, mas admiro pakas q mulher... ela é foda!

 

Rapaz, quero mais, mais, mais, mais!!! rs...........

Abração!

 
Este comentário foi removido pelo autor.
 

Você tem a pura razão.... além do mais, a Madonna é um ícone e ajuda mundo os necessitados. Ela merece todo o seu sucesso!!

Alías.. dia 20 de dezembro estarei mais próximo dela.. rsrsrs

Abraços, passe no flog do projeto..

Aqui é o Rogério que estudou contigo!!

 

Nao que eu goste da madonna...
mas voce escreve bem!
=)
como eu vim parar aqui? oO

 

Adorei sue bolg. e o comentário sobre o tal do Carlos, nossa que foi isso...? Magnífico!!! Parabéns!

 

Oi!

Gostei do seu texto. Você escreveu o que eu gostaria de ter escrito.

Parabéns!

 

Fofinho...
Adorei, viu???
Beijão!!!

 

Nossa Thiago... me surpreendeu...
AMAY! Até eu estou pensando... acho que isso serve para todos não só em questão de Madonna, mas em qualquer questão...

 

Não sei como você consegue gostar da Madonnam tudo que essa senhora faz é um golpe de marketing... :P ahuahuahauha... Brincadeira...

Apesar de não ser muito fã de suas músicas, eu tiro o meu chapéu pra Tia Madonna, ela é realmente uma artista completa, ousada...

Gostei do seu blog.. Mas tá na hora de atualizar, não???

Abração, sexyhot...ahuah